O Mal que mora no olho!

 



Foste concebida na aurora dos tempos
e nasceste no limiar do mundo:
és filha bastarda de inusitada união, 
de abstruso encontro de virtude e vício

És rebento espúrio do enlace da admiração nutrida pelo esplendor alheio 
(oculta sob o espesso manto da soberba)
e da frustração pela constatação da carência de talento
em proporção necessária a conflagrar o fulgor capaz de igualá-lo

És a causa da decadência do Anjo de Luz,
és partícipe da gestação do pecado original,
és corresponsável pela entrada da morte na história 
e conduzes quem te abraça, 
a largos passos, ao ardente tacho, 
em que já não mais é possível 
a concessão da graça de purgar as perversões 
e donde exara tão somente 
o choro e o ranger de dentes
dos fadados a padecerem, pela eternidade, 
de todo o mal que disseminaram

És o não ver,
és o não querer enxergar,
és a recusa de testemunhar
a condição de quem te é superior

Mas és igualmente curiosa
e não resistes a inteirar-te de uma novidade
que represente iminente ameaça 
à tua quimérica hegemonia 

Não consegues manter-te impassível 
ante quem cruza teu caminho
e de pronto desperta tua ira 
pela magnificência que não possuis

É quando o teu não divisar
se converte em olhar oblíquo, 
de esguelho, enviesado,
célere e dissimulado, 
a evitar ensejo de ser notado

Teu desgosto te impede de fitar,
tua covardia não te permite encarar,
tua arrogância te aparta da razão, 
teu orgulho exacerba teu ciúme 

És o mal que mora no olho!
És o mais repugnante dentre todos os pecados capitais!

Impelida pelo elã de compensar 
a total ausência de méritos 
que te propiciem galgar 
os mais elevados patamares 
já alcançados por teu próximo, 
canalizas todas as tuas forças 
para provocar sua queda,
te dedicas a tecer aleivosas infâmias, 
maquiavélicas maquinações, 
sórdidas tramas e escabrosas ciladas, 
a fim de satisfazer teu desprezível denodo
de derribar com um só golpe, de súbito, 
um pedestal de ilibada reputação, 
edificado ao longo de toda uma vida

Ante a colérica constatação 
de tua inépcia para ascender
ao nível de teu adversário, 
por ti abominado e detestado e, 
concomitante e paradoxalmente, 
(ainda que de modo algum admitas)
estimado e apreciado,
te resta almejar sua derrocada 
como única forma de a ele equivaler-se

Desconsideras todo e qualquer escrúpulo, 
ignoras todo e qualquer freio moral,
desprezas toda e qualquer ética, 
te entregas por inteiro à arquitetura do engodo,
te abandonas por completo ao estratagema da distorção

Acusas teu inimigo de infundadas transgressões, 
por ti mesma engendradas, 
lanças mão de calúnias e difamações
com escopo de legitimar descabidas imputações 

Julgas exclusivamente conforme teus abjetos critérios, 
condenas consoante tuas hediondas convicções 
e executas tua sentença de desonra
com fulcro em tuas deploráveis concepções

Retesas o arco da perfídia 
e atiras a flecha da detração, 
embebida na cáustica peçonha 
que corre em tuas veias e jorra de tuas presas, 
para levar à gangrena 
o insuportável êxito de teu desafeto

Afias a lâmina da guilhotina da intolerância
para decepar a mão que escreve 
o que tua imaginação 
jamais será capaz de conceber

Acendes a tocha da maledicência 
para calcinar e reduzir a cinzas 
o legado do pensador 
que jamais serás capaz de compreender 

És hipócrita!
Te vales de lamuriosas murmurações
para vestires tua máscara de injustiçada, 
abusas de tua inflamada oratória
para arrebanhar um séquito
que se reconhece igualmente preterido das benesses 
a que, à luz da realidade, não faz jus, 
mas, conduzido de olhos vendados
por tua execrável manipulação, 
te idolatra e te aclama mártir dos esquecidos

E desse modo instigas os incautos
a empunharem, ao teu lado, 
a bandeira de tua pretensa causa 
em favor de uma ilusória equidade

És sorrateira!
Provocas pequenas trincas nas relações que, de início,
equivocadamente consideradas inofensivas, tidas como  irrelevantes,
convertes em rachaduras ainda suportáveis, as quais,
alargadas por tua constante incitação,
evoluem para fendas irreparáveis 
e finalmente se revelam abismos intransponíveis...

Fomentas a discórdia e consumas a divisão! 
E te alegras com tua colheita!

Até que despertas do sonho
e percebes que colidiste contra rocha sólida,
da qual sequer obténs lascas com teus ataques!

Até que sentes que tuas investidas são barradas 
pelo escudo esculpido no bronze maciço da Verdade!

Até que és traspassada pela espada de aço
temperado na forja da Justiça!

Entende, pois, 
que tua existência só é permitida para que, 
do mal que causas, 
possa advir um bem,
infinitamente superior, 
que agracie e contemple, com abundantes e copiosas bênçãos, o alvo de teus perniciosos desideratos!

E mais uma vez perdeste, estúpida inveja!

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