Mais um rolê em Sampa pra curtir ainda mais às "pampa"
Dessa vez o Ricardo tava indo pra Capital todo pimpão: pra evento festivo, pra prestigiar e celebrar o lançamento do livro Memórias do Cotidiano 3!
Uma coletânea de narrativas dos servidores da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, relacionadas aos seus locais de trabalho, sob uma perspectiva histórica e arquitetônica do patrimônio imobiliário - os prédios que abrigam as Unidades de Saúde - além dos relatos de experiências que, no contexto de trabalho nas instituições de saúde, impactaram suas vidas, no pessoal e no profissional, no individual e no coletivo.
O Ricardo não tava se cabendo porque os dois textos que ele tinha enviado foram selecionados pra publicação: "Palácio da Saúde" e " Dr. Francisco José, coração gigante".
E a alegria transbordou de vez quando recebeu o e-mail da Coordenadoria de Recursos Humanos pra participar do lançamento do livro na Mostra de Recursos Humanos, em comemoração ao Dia do Servidor Público.
Autor convidado!
Tava vivendo um daqueles momentos em que a gente se sente pleno e realizado. Como ele mesmo costuma dizer: "É o puro creme do orgulho e da felicidade!"
Bem diferente da viagem de três semanas atrás, pra entregar bens inservíveis no Depósito do Fundo Social, no Jaguaré. Pensa numa fita em que tudo e mais tudo que podia acontecer pra dar ruim acabou acontecendo mesmo!
Um perrengue atrás do outro, igualzinho quando a gente tá no mar e leva um caldo de uma onda nervosa e, quando consegue ficar em pé pra tentar respirar, já vem outra e joga a gente pro fundo de novo. E depois vem mais uma, outra e todas!
E quando a gente tá chegando no fim das forças e tudo parece perdido, aparece um Salva-Vidas pra resgatar a gente!
No caso do Ricardo, foram anjos em forma de gente que fizeram a diferença pra desenrolar os enroscos.
E não é que ainda rendeu? A história acabou contada aqui no Sextou, Textou!
É bem aquele clichê: se quando chega nossa vez na fila da fruta, vem um limão pra gente: bora lá fazer uma limonada!
Pra quem quiser conferir, é só dar um rolê aqui pelo blog e ver "Aquele rolê em Sampa pra curtir às pampa!"
Então, já que tava na certeza absoluta de que já tinha gastado toda a cota, de pelo menos uns dez anos, de "zica em viagem", o Ricardo partiu pra essa na boa, só pra curtir, in loco, o debut do livro...
Só faltou levar em conta que esse tal de destino não respeita estatística de jeito nenhum!
Até que pro deslocamento não teve reincidência de sinistro mesmo não: a viagem foi bem suave, o Ricardo foi de carona na viatura do NAOR - Núcleo de Apoio às Operações Regionais, da Coordenadoria de Controle de Doenças (o Claudemir tava levando a Maria Tita pra uma Conferência de dois dias e o Ricardo aproveitou pra pegar uma beirinha na barca...)
Ah, vale demais registrar o almoço na estrada: Torre de Pedra! É no Km 167 da Castelo, tem um outdoor de referência e é só um pedacinho de chão pra chegar na chacrinha.
Pensa naquela comida da roça! No fogão de lenha tem arroz, feijão, uma farofa top, o tradicional bistecão, bife de tira, peito de frango empanado recheado com queijo, batata rústica e banana à milanesa!
E o melhor - não, melhor é o rango mesmo - é que a gente come tudo e mais tudo por apenas R$ 25,00! Achado do Claudemir! Pra quem não aguenta mais as facadas das grandes redes da rodovia, fica a dica...
- Pois é, Ricardo! Vou ter que maneirar na janta pra dar uma compensada nessa descompensada do almoço!
- Rapaz, se bobear não vou nem jantar...
Só que não, né? É o tipo de coisa que a gente fala quando acaba de encher o tanque, estica o couro da barriga e murcha o do "zóio", mas quando chega a noite...
- Acho que vou dar um pulinho ali no Shopping só pra bater uma ceiazinha de leve: uma "Patroni", assim, de quatro pedaços, só pra dar aquela forradinha básica pra passar a noite...
Praça de Alimentação no terceiro piso, o Ricardo subiu pelas escadas pra amenizar o peso da culpa. Só da culpa mesmo...
Mas, quando chegou lá em cima, sentiu alguma coisa diferente no ar.
- Cheiro de espetinho! Será que tem novidade? Só se inauguraram a churrascaria no modo "ultra-fast", porque não tô lembrando de ter visto nenhum movimento acontecendo há vinte dias...
Pior é que não tinha nada de novo mesmo! E o cheirinho começou a ficar mais forte e a fumaça mais densa à medida que o Ricardo se aproximava dos restaurantes. E chegou num grau que já tava começando a incomodar, de causar dificuldade pra respirar mesmo.
E ainda assim o Ricardo continuou em frente, até que viu a real de frente. Os seguranças vindo em sua direção, em passadas largas e rápidas, abrindo caminho pra galera que vinha atrás. Parecia que tavam conduzindo um rebanho, mas era gente, mas muita gente mesmo! A Muvuca!
- Mas o que será que tá pegando aqui?
- Fogo! Fogo! Tá pegando fogo, senhor! Situação real de incêndio! Evacuação imediata do prédio! Todo mundo pra escada de emergência! Desçam todos em fila, com calma, sem desespero! Mas sem perder tempo!
E foi só então que caiu a ficha pro Ricardo de que o Shopping tava em chamas! Começou na cozinha de um dos restaurantes e se espalhou rapidamente. E todo mundo teve que meter o pé na hora!
Pessoal dos estabelecimentos, cozinheiros, caixas, atendentes, clientes que já tinham feito pedido e tavam na espera, quem já tava comendo, bebendo, conversando, namorando, passeando, comprando nas lojas: todo mundo teve que abandonar o que tava fazendo e dar linha pra salvar a vida!
É um negócio impressionante! É aí que a gente entende como é que se morre em incêndio: é sufocado, asfixiado! Tudo acontece muito, mas muito rápido mesmo! A fumaça toma conta e, se ficar marcando pra sair, tomba...
E aí tem que deixar aquele "Salve!" pro staff do Shopping! Levaram a multidão pra fora com segurança, sem causar pânico, no controle total da situação - tensa, bem tensa sim, vâmo negar não - orientando sobre o procedimento de saída, mostrando o caminho a ser percorrido, sempre com serenidade e, ao mesmo tempo, com autoridade.
E todo mundo desceu as escadas sem correria, sem precipitação, sem ataque de histeria e - o que mais chamou a atenção do Ricardo - em silêncio. Bem aquela coisa da ausência de palavras demonstrar, por si só, a gravidade do momento...
No popular:
- É aquela parada: quando ninguém fala nada é que a gente percebe o tamanho da encrenca!
E a gente acaba tendo a exata noção da dimensão do "evento" quando finalmente consegue sair e se depara com o que tá rolando do lado de fora!
Primeira coisa é poder respirar ar puro: maior sensação de alívio do mundo! Outra daquelas que a gente só valoriza quando não tem...
E outra é dar de cara com a mobilização: todo o perímetro do edifício já tava cercado por caminhões, vans, ambulâncias, caminhonetes, carros e motos do Corpo de Bombeiros. E aí é só som de sirene e flash de giroflex!
Em poucos minutos, chamas apagadas, vulcão extinto, mas ainda muita fumaça saindo pelas janelas.
E todo mundo ali no Boulevard, esperando pra saber se ainda voltaria pro trampo. Cada um contando sua história, fazendo fotos e vídeos dos carros dos bombeiros, registrando o "acontecimento" insólito, agora não mais tão apavorante.
Até que veio o comunicado da Defesa Civil: "Prédio Interditado até que sejam restabelecidas e atestadas as condições de segurança plena para funcionários e clientes."
E as rodinhas formadas pelos agrupamentos de pessoas uniformizadas, que pareciam prontas pra participar de uma gincana daquelas de escola, rapidamente se dissiparam.
E o Ricardo ali, registrando tudo, meio que ainda sem acreditar em tudo o que tava presenciando.Mas logo voltou do devaneio...
- Caramba, agora deu fome!
Com certeza, mais fome de viver do que de comer, porque ainda não tinha queimado nem metade do almoço lá do Torre de Pedra!
Ah, ser humano! Que bicho doido! Nem bem se refez dum baita susto dum risco iminente de morte e já volta pro automático...
- Ainda bem que tem o Bourbon aqui pertinho! Uns dez minutinhos de canela e já era! Bora comemorar o livramento!
O primeiro da noite! Porque logo na seguida precisou de outro, do mesmo naipe!
Quando o Ricardo já tava chegando no Shopping, passando bem na frente da bilheteria do Allianz, o moleque - não tinha mais do quinze anos - apareceu do nada. Do nada não, né? Tava escondido atrás da árvore, esperando pra dar o bote!
- Parô! Parô! Parô aí, mano! Perdeu! Perdeu! Bora aí, celular e carteira! Vâmo! Vâmo! Celular e carteira na mão, tio!
E o Ricardo paralisou! Travou geral! Só conseguiu ver o volume debaixo do moletom do rapazinho.
"Caramba, não pode acabar aqui, assim! Desse jeito não, né?"
- Calmô! Calmô! Calmô, mano! Celular tá na mão, mas tô sem carteira! Só RG e cartão de crédito!
- E esse cordão aí ? Põe na mão! Põe logo na mão!
- É um escapulário de Nossa Senhora do Carmo, meu irmão! Na boa, parceiro: leva tudo aí, mas essa parada é peça de fé! Deixa baixo essa, por favor!
- Que mané, irmão? Aqui não tem irmão, não! Aqui é o Mundão, tá ligado? E o Mundão não tem dó de ninguém, não! Bora passando tudo aí, Play! Bora, pô!
Mundão!
"O cara se chama de Mundão! Quer saber, bora pro tudo ou nada no Mundão!"
- Aê, Mundão! Vai vendo minha real, Brô: Sou trabalhador da Saúde, irmão! Não sou daqui não, sou de Presidente Prudente, tô longe de casa uma cara! Sem celular e sem cartão não vou ter como voltar! Vai me deixar nesse vácuo, mano?
Quando viu, já tinha falado...
"Pirou, Ricardo? Agora já era, o maluco vai me passar! E levar tudo do mesmo jeito!"
- Saúde, tio? Prudente? Lá do fundão, onde tem uma "pá" de penitenciária? Uma pernada pra chegar lá, hein? Veio fazer o que aqui?
"Opa, deu linha! Comprou a chorada! Alguma coisa falou dentro do cara! Bora investir!"
- Vim pro lançamento de um livro!
- Aê! Mandou que é da Saúde e agora emplaca essa de livro! Tá me tirando, mano? O Mundão não perdoa quem tenta dar perdido nele, castela?
- É um livro escrito pelos servidores da Saúde! Tem "miguelagem" não, Mundão! Tá tudo aqui no celular! Se quiser conferir...
- Mostra aí a parada, então!
E o Ricardo abriu, pro Mundão ver, o e-mail da CRH convidando pro lançamento do livro.
- Então cê trampa na Saúde e é escritor?
"Não boto uma fé: o cara tá mudando o foco! Qual será a desse maluco?"
- Ah, mano! Escrevo pra família e pros amigos! Só conto umas "história" aí, registro umas "ideia" minha! Nem da pra considerar escritor...
- Aê! Qual seu nome, mano?
- É Ricardo, Mundão!
- Ricardo do que, maluco?
- Sestim! Ricardo Sestim!
- Aê, Ricardo Sestim! É o seguinte: eu chuto celular, grana e o que for, sabe por quê? Porque eu preciso comer, copia? Um aparelho desse aí rende pra mim dois "almoço" e duas "janta', tá me entendendo? Não é pra corote, nem pra erva, nem pra pó e nem pra pedra, não! É pra ficar vivo, sabe qual é? Vivo, mano! O Mundão apela quando passa fome, faz qualquer coisa pra ficar de pé!
- Pior que sei, Mundão! Trampei dez anos em projeto sócioeducativo antes de vir pra Saúde! Conheci muita gente na mesma situação que a sua! E um dos motivos de ter começado a escrever foi a vontade de contar as histórias que vivi com eles!
- Aê, Ricardo Sestim escrevedor! Tô tendo umas ideia aqui, mano: eu vou passar o pano pra você dessa vez, tá ligado? Mas você vai escrever que você conheceu o Mundão e que o Mundão é foda! Que o Mundão é osso! Vai escrever que o Mundão é perigoso, que o Mundão é cruel, que o Mundão não paga pau pra ninguém!
- Mas também vai escrever que o Mundão também pode ser do bem quando você resolve trocar ideia com ele, firmeza? E de repente o Mundão pode até te dar aquilo que você nunca nem pensou em pedir pra ele, fechou?
- Fechadíssimo, Mundão!
- Vai lembrar dessa resenha inteira pra por no papel?
- Cada palavra! Pode acreditar! Me passa seu contato que mando pra você assim que escrever!
- Tá maluco? Passa o contato! Vai vendo! O Mundão não passa o contato pra ninguém não, tio! Passa o contato! É pra acabar...
- Então faz assim, Mundão: escrevo toda semana e publico toda sexta-feira (tá certo que às vezes no sábado, domingo, segunda e até terça). Mas normalmente é no dia certo! Por isso o nome é Sextou, Textou! Porque toda sexta tem texto, pra começar o fim de semana de um jeito diferente! E o Mundão vai ser o tema da próxima!
- Então o Mundão vai colar lá pra ver qual é...
- Opa, Mundão! É só acessar: www.sextoutextou.blogspot.com! Vou ficar muito feliz com o Mundão lendo as histórias do Sextou, Textou!
- O Mundão vai ler, Ricardo Sestim! Pode "pá" que o Mundão vai ler...
👏👏
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