A Rainha da Festa!
Começou lá no século passado, em 1997. Barracas montadas na frente da igreja da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Praça da Maristela. Cada uma oferecendo comidas típicas e tradicionais do mundo inteiro.
Um evento gastronômico com a finalidade de celebrar, principalmente, o dia da Padroeira, 16 de julho. Mas aproveitado, também, como uma oportunidade de reunião e congraçamento do pessoal da paróquia e dos devotos da Carminha, forma simples e carinhosa pela qual nos referimos à Flor do Carmelo.
E, obviamente, visando arrecadar recursos pra manter a casa em pé, porque paróquia também tem boletos - e muitos - pra pagar, além de custear as obras assistenciais, reformas e ampliações da igreja-matriz e das quatro capelas vinculadas: São Brás, do Parque Alexandrina, São Luís Gonzaga, do Parque Primavera, São Padre Pio, do Parque Furquim e Nossa Senhora Desatadora dos Nós, do Bairro União, da Zona Rural de Prudente.
O pessoal até brinca, quanto à situação econômica, que são sempre duas notícias boas: a primeira é que o dinheiro existe e a segunda é que ele tá na mão dos fiéis! Quer ideia melhor que fazer uma festa pra facilitar a transferência?
Mas, antes de contar a historia da festa, é necessário, por primazia, contar a historia da Rainha da Festa.
Aconteceu faz uma data, em 1251. E tudo por causa de um sufoco danado. Já fazia uns vinte anos que a Ordem dos Carmelitas vinha sofrendo perseguições, que culminaram com sua expulsão, pelos muçulmanos, do Monte Carmelo.
Os frades chegaram à Europa como nômades e encontraram forte resistência - pasmem - de outras ordens religiosas. Eram hostilizados e ridicularizados por sua maneira de vestir.
Pois é, pensa que bullying é coisa de agora, que teve início com a modernidade? Os pobres dos carmelitas, escorraçados da montanha onde viviam recolhidos, exclusivamente dedicados à oração e à penitência, passaram a ser trolados pelos monges das outras congregações.
Fase crítica que não acabava nunca. Ao contrário, só piorava. E, quando já tavam no bico do corvo, à beira da exterminação, sem ter mais a quê nem a quem recorrer, veio a redenção.
E quem é que aparece na hora do desespero, do sofrimento, da aflição, da angústia?
Ela mesma!
Nossa Senhora do Carmo apareceu pra Simão Stock, líder da Ordem, em 16 de julho, garantindo sua maternal proteção aos carmelitas e a todos que usarem a vestimenta que Ela lhe entregou.
"Recebe, filho amado, este escapulário. Todo o que com ele morrer, não padecerá a perdição no fogo eterno. Ele é sinal de salvação, defesa nos perigos, aliança de paz e pacto sempiterno”.
Escapulário?
É uma veste, feita de dois quadradinhos de tecido marrom, unidos por cordões, tendo de um lado a imagem de Nossa Senhora do Carmo e, de outro, o Sagrado Coração de Jesus ou o brasão da Ordem do Carmo.
Originariamente, era um avental usado pelos monges durante o trabalho pra não sujar a túnica. Colocado sobre os ombros (escápulas), é uma peça do hábito que até hoje todo carmelita usa. Com o tempo, estabeleceu-se uma versão em tamanho reduzido, pra ser dada aos fiéis leigos.
A partir daí, quem se reveste do escapulário passa a fazer parte da família carmelita e se consagra à Nossa Senhora. Assim, o escapulário constitui sinal visível da aliança com Maria.
No entanto, não se trata de "amuleto" que garanta o céu pra almas em pecado. Ele é um sacramental, um objeto religioso de devoção que, usado corretamente, segundo as formas aprovadas pela Igreja, nos ajuda a viver a conversão, a bem receber os Sacramentos e a perseverar na virtude e na graça.
E olha só as atitudes fundamentais que são exigidas de quem se propõe a incorporar esse verdadeiro "escudo" Mariano:
- Colocar Deus em primeiro lugar em sua vida e buscar sempre realizar a vontade Dele;
- Conhecer a palavra de Deus e praticá-la na vida;
- Buscar a comunhão com Deus por meio da oração, diálogo íntimo que temos com Aquele que nos ama;
- Abrir-se ao sofrimento do próximo, solidarizando-se com ele em suas necessidades e procurando solucioná-las;
- Participar, com frequência, dos Sacramentos da Igreja, da Eucaristia e da Confissão, pra poder aprofundar o mistério de Cristo em sua vida.
E aqui a gente precisa lembrar que não tem nada de extraordinário nessa lista: são condições que já se esperam de todo católico. O escapulário não adiciona nenhuma obrigação a mais pra nós.
Ele apenas reforça o compromisso cristão de vivermos pra aquilo que já fomos chamados, acrescentando - aí sim - uma especial promessa de ajuda pra que, de fato, consigamos realizar esses propósitos.
Ah, e ainda tem a oração - magnífica, por sinal - à Nossa Senhora do Carmo:
E tem aquela coisa, que é a mais maneira, do estar todo mundo junto, pelo menos um fim de semana no ano, pra homenagear Nossa Senhora do Carmo, pra rezar, agradecer, louvar, cantar e se alegrar no dia a ela dedicado. É o puro creme da "Festa-Família!"
E não é que, a cada ano, a "parentaiada" foi crescendo em proporção geométrica? Mil, duas mil, cinco mil pessoas! E logo a praça ficou pequena pra tanta gente. O jeito foi arranjar um local com área maior - mais bem maior mesmo - pra poder acomodar todo mundo com conforto e segurança.
E o evento, que continuava a atrair multidões de forma vertiginosa, passou a ser realizado no barracão onde atualmente está instalada uma conhecidíssima loja de departamentos - aquela mesmo - que tem nome cubano e símbolo norte-americano...
Mas a festa acabou dando match mesmo com um ponto turístico, que provavelmente seja o único da cidade que reúna tantos atributos, particularidades que o distinguem dos demais, que o tornam exclusivo, como historicidade, exuberância, imponência, relevância econômica, social e cultural e, de quebra, referência arquitetônica: o famoso IBC - Instituto Brasileiro do Café.
À primeira vista, um galpão comum, como qualquer outro, construído lá na década de quarenta pra estocar os grãos do ouro verde, o principal produto de exportação - e maior fonte de riqueza e prosperidade - do país desde o século XIX.
No entanto, um olhar mais apurado pro prédio revela as razões de seu tombamento, em 2019: uma estrutura fabulosa, com um vão livre edificado, com madeiramento de lei apenas encaixado, prescindindo da utilização de pregos, cravos e parafusos, além da cobertura de folha de flandres, com isolamento térmico que impede o aquecimento do recinto.
Será que tem lugar melhor pra sediar a Festa da Padroeira? Reformado e com aspecto original preservado, protegido contra qualquer descaracterização pelo Decreto nº 30.268/2019, de valor inegável e inestimável, o IBC Centro de Eventos virou a "casa" da Festa das Nações!
Ou seria o "quintal" da igreja? É que ele fica a cerca de duzentos metros da praça: é só subir um quarteirão, andar mais um e atravessar a linha do trem...
E assim chegamos à vigésima quarta edição agora em 2023. Só não rolou nos últimos três anos por causa da pandemia. Mas voltou compensando - e com sobra - o vácuo das edições que infelizmente passaram em branco: público estimado em 25.000 pessoas!
O rolê movimenta a cidade, gera divisas, da um gás no comércio e no turismo local, pois atrai muita gente de toda a região e até de Estados vizinhos - Paraná e Mato Grosso do Sul - que vem pra prestar culto à Nossa Senhora do Carmo e aproveita pra prestigiar a comemoração. Deu tão bom que já foi até incluída no Calendário Turístico de Prudente. Virou coisa séria...
E vai vendo a variedade de iguarias servidas pelas barracas. É só delícia...
Árabe - esfiha, quibe, coalhada e pão sírio;
Brasileira - frango à passarinho, costelinha de porco e espetinho (outro campeão de vendas);
Espanhola - camarão à espanhola, casquinha de siri e paella;
Grega - churrasquinho grego, no pão francês com vinagrete (mais uma estrela da festa: a fila só que aumenta, mas vale cada segundo da espera);
Inglesa - batata recheada e strogonoff;
Italiana - rondelli, lasanha, nhocão e filé de frango à parmegiana (Mama mia!);
Japonesa - sushi e yakisoba (o melhor da cidade, aclamado por unanimidade: "Oba-Oba!");
Portuguesa - caldo verde, bolinho e pastel de bacalhau (ah, tem que respeitar, que o negócio é caprichado no tempero e no tanto de recheio) e pastelzinho de Belém;
Havaiana - sucos de laranja, limão, morango;
Café - capuccino, coffee shake e pão de queijo;
Doces - brigadeiro, beijinho de coco, quindim, espetinho de morango coberto com chocolate (fica a dica pra já ir comprar a sobremesa logo que chegar, porque se deixar pro fim já era...)
Nossa Senhora do Carmo interceda por nós. A artista que fez o quadro é minha vizinha e amiga. Ficou lindo.
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