Palácio da Saúde


 


Pi, pi, pi, pi, pi!

- Relógio de ponto não leu a digital. Parece que faz de propósito, justo no dia que a gente chega em cima da hora. 7:59 virando pra 8:00.

Pi!

- Opa, registrou! Agora sim!

- Bom dia, senhores!

Márcio, Aílton e Jeff. Dois palmeirenses e um corintiano. Esse que chega, são-paulino. Toda segunda e quinta tem a resenha da rodada na recepção. Quem ganhou, quem perdeu, quem zoa, quem é zoado. Nos últimos tempos, só tá sobrando pra mim...

Já tem alguém na porta do Protocolo. Ouviu as vozes e veio pra receber a saudação matinal. Pra ela é diferenciada. Rimada. Pra buscar aquele sorriso lá do fundo da alma.

- Roseli, cê já tá aí?

Quero nem pensar como vai ser quando ela se aposentar.

Bora começar o dia!

- Um bom dia de trabalho pra você, Alemão! Que seja um dia abençoado pra nós todos!

O indispensável bom dia do Toninho! Potente, entusiástico, transbordando vida, alegria e fé.

- Bom dia, meu querido! Amém!

Leninha sobe a escada cantando Roberto Carlos.

- Quando eu estou aqui, vivendo esse momento lindo...

Aí sou obrigado a acompanhar, assobiando. Tem passarinho no DRS. Mania de assobiar música.

O que pouca gente sabe é que costumo assobiar quando tô na pressão, com bucha pra desenrolar. Daí que o pardal canta só todo dia...

Gargalhadas no RH. Certeza que é a Gisele, exercitando seu português rebuscado, do século XVII. Barroco, só que não!

Porta destrancada, cheirinho de limpeza, ar ligado pra dissipar o mormaço e deixar a sala fresquinha...

Ah, Josie!

Como é bom chegar todo dia pra trabalhar sabendo que um anjo já preparou o cantinho da gente com o maior zelo e carinho. É sobre ir além, muito além da obrigação. Fazer de coração, com alegria estampada no rosto.

Entra, senta, liga o computador.

Telefone. Um toque, breve. Ligação interna. Elaine, do Gabinete.

- Pode dar um pulo aqui? Revisa comigo um despacho no Sem Papel?

Despachado!

Agora ver o Diário Oficial. Publicações do Legislativo. Imprescindível acompanhar os processos diariamente. Comissão de Atendimento ao Tribunal de Contas é coisa séria!

Telefone de novo. Dois toques. Essa é de fora.

Neusa, do Centro de Gerenciamento Administrativo de Marília.

- Pode dar uma olhada nesse processo de doação, por favor? Unidade Básica de Saúde de Oriente. Me ajuda a justificar o interesse público?

Justificado!

Tempo correndo. Dia de fechar mês no SAM - Sistema de Administração de Materiais. Imprescindível pra não perder a integração com o SIAFEM. Inadmissível não ter as Notas de Lançamento de Depreciação geradas automaticamente.

Fechado! Ô, Glória!

Aviso de e-mail na caixa de entrada: Núcleo de Administração Patrimonial, da Coordenadoria de Regiões de Saúde.

"Por gentileza, encaminhar a relação dos veículos cedidos em permissão de uso aos municípios. HOJE, ATÉ ÀS 16:00.”

Para tudo pra providenciar. Prazo com Caps Lock ativado...

Planilha enviada!

Eliane na porta. Quando a chefia vem...

- Vâmo descer lá no Suprimento pra ver os condicionadores de ar? O menino da instalação mandou mensagem que já finalizou, mas o Núcleo de Saúde da Mulher ainda tá com o ar de janela. Não tá batendo...

Conferido. Tava lá mesmo. Esperando pra ir pra parede...

Eita, já tava quase esquecendo de pedir pra Ana ligar pra Marilda, de São João da Boa Vista, agendar uma data pra disponibilizar o caminhão pra transportar os bens inservíveis pro Depósito do Fundo Social, no Jaguaré.

E tem que ser ela pra esse tipo de solicitação, porque tem o dom de pedir com uma delicadeza que é impossível recusar. E a nossa amiga, mesmo do lado de lá do Estado, sofrendo permanente assédio por possuir o único veículo de grande porte pra atender todos os Departamentos Regionais de Saúde, nunca diz não. Só na parceria pra dar conta de moer a farinha toda...

Mas, vâmo combinar: trabalhar no Núcleo de Administração Patrimonial e Atividades Complementares, o NAPAC, é simplesmente demais. Um privilégio.

Ter acesso a todas as salas, conhecer todas as pessoas, aprender um pouco sobre tudo e todos que tocam o SUS.

Poder ver a saúde sendo pensada, estudada, planejada e executada. E é todo santo dia que esse pessoal levanta, arregaça as mangas e se junta aqui no DRS pra literalmente “fazer saúde”.

Nos limites das possibilidades, das viabilidades, da licitude e sempre no exercício pleno - e responsável - da conveniência e da oportunidade, conscientes de que cada papel que chega é uma vida, quase sempre de gente sofrida, que precisa do nosso esforço e da nossa dedicação pra ser dignamente atendida.

E é aqui que tudo isso acontece. Nesse prédio de mais de cinco mil metros, em três pavimentos, que já há algum tempo abriga o Departamento Regional de Saúde, o Centro de Laboratório Regional do Instituto Adolfo Lutz, o Grupo de Vigilância Sanitária, o Grupo de Vigilância Epidemiológica e o Núcleo de Apoio às Operações Regionais de Presidente Prudente e que, anteriormente, era o principal estabelecimento de desenvolvimento de ações e de prestação de serviços de saúde à comunidade local e regional.

E, por obviedade mais que reconhecida, recebera a denominação, melhor, a distinção de “Palácio da Saúde”, nos tempos de atendimento médico e ambulatorial à população.

Quem já entrou na casa dos “enta” atesta. Antes do SUS, prevenção e tratamento era tudo aqui. Quebrou a perna, caiu a obturação, cortou o dedo, embaçou a vista, deu queimação no estômago, “nó na tripa”, “ar de estupor”? Bora correndo pro Palácio!

E a tão temida vacina de revólver, então? E a mais sinistra de todas as injeções: a pavorosa Benzetacil? Era pra cá que a gente vinha “arrastado” pro sacrifício...

Jamais poderia imaginar que chegaria um tempo em que viria todo dia aqui, pra trabalhar, com a honra e o orgulho de ser servidor do público!

Mudou o nome, são outros os ocupantes, é diverso o serviço, mas a nobreza do prédio e a eminência da finalidade, ninguém ousa contestar: será sempre o Palácio da Saúde!

 



 

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