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Mostrando postagens de março, 2023

Bala de Prata

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  O ano é 1994. A Nenê e o Ricardo começaram a namorar em fevereiro. Senna morreu no feriado de primeiro de maio. O Brasil ganhou o tetra em julho. Em agosto, o Seu Joaquim, sogro do Ricardo, resolveu que ia trocar de carro. Tinha um Fusca 74, amarelinho. Trabalhava no SESI do Parque Furquim. Comentou no serviço que tava pensando em vender, pra comprar um Gol 1000, modelo da Copa. Alguém falou que tinha uma professora querendo um fusca. Combinaram de ver o carro no final do dia. Negócio fechado ali mesmo, na garagem do Seu Joaquim. No sábado, a família inteira partiu pra Copauto pra montar no Gol. O primeiro carro zero a gente nunca esquece. Baita conquista de quem venceu na vida. Mas foi só pisar o pé na concessionária pra história mudar por completo. Deu de cara com ele. Prata. Lunar. Brilhando igual diamante. Motor de 1.600 cilindradas. Dois carburadores. Vidros verdes. Aquele adesivo fininho, amarelo e preto, ao longo de toda a lateral, logo abaixo das janelas. E mais dois na trase

Faz o "V"

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  Anunciado, enfim, o tão ansiado projeto E olhe que até duvidaram da existência Depois de tanta desconfiança e maledicência Ei-lo, pois, revelado, em que pese o modo indiscreto Comprovado - é o que importa - que se trata de plano concreto É que até então a única ação plenamente efetivada Promessa de campanha por todos compartilhada Reajuste do Bolsa-Família ou Auxílio-Brasil, conforme o eleito Pelo Congresso em raro consenso levado a efeito Demolição legal do teto de gastos, muito bem orquestrada Mais do que na hora, então, de colocar a mão na massa Mercado mais que impaciente, aguardando por um sinal Da imprescindível reforma tributária: o necessário arcabouço fiscal Liberando umas verbinhas pra emendas a matéria logo passa Quanto mais quente o forno, mais rápido a pizza assa É só no ritmo do fisiologismo que Brasília dança Toma-lá nosso idealismo, da-cá nossa esperança E quando a geral, teimosamente, alimenta a ilusão do avanço Leva na cara que o poder vai ser usado só pra desforra

Mimos refinados

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  História tão fantástica nem Sherazade inventaria: Retornando a comitiva do longínquo oriente Trazendo do rei saudita valiosíssimo presente Que exclusivamente à Primeira-Dama se destinaria Sendo portador o ministro, fato que ninguém contraria Relógio, anel, brincos e colar: mimos deveras refinados Em surreais dezesseis milhões e meio avaliados Não declarados na alfândega de forma oficial Retidos em pleno aeroporto pela Receita Federal Em outra “lembrança” engenhosamente ocultados   Pra escapar do imposto milionário se valeram de tramoia Fosse consignada ao país - como apregoa o bom senso - a oferta da preciosidade Do recolhimento de tributo nenhum haveria necessidade Mas pra burlar o fisco lembraram da Guerra de Troia Aproveitando o presente dos árabes criaram o “Cavalo de Joia” Alladin e Ali-Babá, ante tal astúcia, decerto sentiriam no rosto o rubor Envergonhados, em disparada partiriam no tapete voador Jamais se igualariam suas peripécias aos tupiniquins disparates Afinal, de brilha

Aê, Vapor! Tem que respeitar as Mina!

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  Janeiro de 2009.  Reunião na Secretaria Municipal de Assistência Social.  Em pauta, as apresentações dos planejamentos das atividades que seriam desenvolvidas durante o ano em cada Núcleo de Ação Comunitária. Chegou a vez do Educador expor o que pretendia trabalhar com os adolescentes naquela temporada.  - Bom pessoal, tâmo aqui com uma proposta diferenciada pra abordar um tema que todo ano é batido na escola e no projeto: as datas comemorativas. Eu sei que pra nós acaba sendo meio que "obrigatório" trabalhar esses dias especiais com a meninada. E a gente acaba repetindo objetivo, conteúdo, metodologia e avaliação. Sempre mais do mesmo! E tabela cumprida... - Então a ideia agora é dar uma chacoalhada na galera: mostrar a real, pra fazer pensar, alargar os horizontes, sair da caixinha. Acho que já passou da hora de desativar o modo padrão de como as histórias vem contadas nos livros e na TV.  -  Por que concentrar em um só dia no ano a discussão sobre a necessidade de preser

Ahhhhhhh! Uhhhhhhh, Uhhhhhhh, Uhhhhhhh!

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Quando a Nenê e o Ricardo casaram, foram morar com os pais dela, na edícula no fundo da casa deles. O Seu Joaquim e a Dona Neuza bancaram a reforma: cerâmica e azulejo, instalação elétrica e hidráulica, pintura, tudo novinho em folha! - Caramba, Seu Joaquim! Nem precisava dar um talento desse! Era só pra gente escapar de pagar aluguel até conseguir juntar o suficiente pra dar entrada na nossa casa... Acabou que ficaram vinte anos por lá mesmo! Sempre se deram muito bem, o Ricardo sempre foi tratado como um filho por eles. Um privilégio ganhar de presente da vida mais um pai e mais uma mãe! Aí vieram as meninas... Muito mais tranquilo e saudável serem cuidadas pelo vô e pela vó. Valor da conta: inestimável! Possível ser pago só com gratidão, respeito e admiração, na mesma proporção do amor e do afeto envolvidos. E por passar praticamente a semana toda com os sogros, virou tradição o almoço de sábado na casa dos pais do Ricardo. Mas com horário estabelecido pra voltar, porque às quatro d